quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

Um Dia qualquer.

 
Certo dia, estava andando em direção ao trabalho que fica a poucas quadras de minha casa. Não notei um ônibus vindo e fui atropelado em cheio pelo desgraçado. Tive aquele momento pós-morte que o espírito enxerga o corpo enquanto tenta entender o que aconteceu e tudo mais.
Enquanto a multidão curiosa - brasileiro adora tragédia, diga-se de passagem - parava para olhar minha cara toda amaçada, voltei-me indignado para o céu e disse.
  • Deus, seu filho da puta! Por que não fez o motorista pelo menos buzinar?!
Ofuscando meus olhos, surgiu uma luz do próprio céu. Sons ecoavam daquele lugar. Pensei que seria melhor ir para lá do que ao inferno, afinal, é de conhecimento geral que o Inferno é quase tão chato quanto um passeio num shopping lotado e com filas pra tudo.
Ao final do longo caminho de luz percorrido, cheguei ao “paraíso” e por mais clichê que possa parecer, era um lugar cheio de nuvens e com um enorme portão dourado. Olhei para um lado, olhei para outro e, vendo que realmente aquele lugar estava deserto, segui meu caminho em direção ao tal portão. Quando me aproximei do desnaturado apareceu um ser ao meu lado. Um anjo com trejeitos femininos. Ao olhar, me perdi em tamanha beleza. Seus olhos cor de mel expressavam uma enorme paixão, seus longos cabelos louros-dourados, seus lábios carnudos e sensuais clamavam meu nome, rosto angelical com traços finos e suaves, seu corpo escultural exibia curvas que nunca havia visto antes. Lembro-me bem dessa parte. Seus braços estavam abertos juntamente com suas asas, parecia que queria me abraçar. Sem saber porque, eu fui em sua direção e, quando cheguei perto, sua mão lentamente encostou em meu rosto num gesto de carinho. Notei que tratava-se de algo mais que um simples abraço. Mas e se fosse um pecado? “Passar o rodo” em um ser de infinita pureza... enfim. Nossos rostos foram chegando perto, já conseguia sentir a respiração ofegante e, finalmente, nossas bocas se tocaram. A ideia do beijo perfeito deixa duvidas em toda humanidade mas, naquele momento, foi perfeito. Como nenhuma mulher viva que havia beijado. Enquanto trocávamos caricias de amor, - acreditem, eu apaixonei pela entidade angelical - ficava imaginando o quanto possível aquele relacionamento poderia evoluir. Foi quando senti uma incrível dor no peito. Como se estivessem arrancando meu coração. Parei com a troca de beijos e olhei para baixo, vi a mão ensanguentada do anjo afastando devagar do meu peito juntamente com meu coração. Quando fui perguntar por que havia feito isso, o ser apontou para baixo. O chão abriu-se diante meus pés e comecei a cair como um meteoro em direção ao plano dos Mortais. Imaginei que alguem estaria tentando me ressuscitar depois do acidente. Que nada! Fui direto ao Inferno. Após a longa e demorada queda, cheguei ao chão sem muitos arranhões. Só um pouco empoeirado. Me sacudi e olhei ao meu redor. Estava em uma espécie de quarto escuro, com uma cama e algumas velas.
  • Oh Céus! ANJA ESCROTA, FILHA DA PUTA! ARRANCA O CORAÇÃO DA TUA AVÓ!
- gritei indignado enquanto levantava minha mão e mostrava o dedo médio.
  • Calma meu bem, você já perdeu seu coração, agora só falta a sua pureza e alto-estima. - ressoou uma voz sexy, fina, vinda do canto mais escuro do quarto.
Surgiu então a figura de uma mulher de cabelos longos e escuros, sobrancelha finas e pontiagudas, lábios carnudos e brilhosos com um tom avermelhado, olhos escuros como a noite sem o luar. Seu corpo era volumoso, seios fartos e quadris largos. Era difícil não notar o jeito interessante que ela se vestia. Somente com um sutiã e uma calcinha de couro-liso bem apertados. Ela carregava uma espécie de chicote na mão. Pensei na frase que veio logo a minha cabeça. “Se está no Inferno, abrace o Capeta.”. Ora, eu já havia perdido meu coração e meus sentimentos, o que mais eu poderia perder, certo? A mulher endiabrada veio em minha direção e me jogou em uma especie de cama redonda, com lençol vermelho e almofadas em formato de coração - clichê, não? - e começou a me despir.
Depois de uma longa noite de sexo selvagem, fazendo todas as posições do kama-sutra, inclusive invertido, adormeci. No dia seguinte, acordei com a mão na cabeça e com uma dor estonteante na mesma, levantei e comecei a me vestir novamente. Após pronto, num reflexo para chegar se estava tudo no lugar, senti um volume no bolso de trás. Era minha carteira! Por algum motivo eu morri e levei minha carteira. Estranho! Resolvi abri-lá para checar se eu ainda tinha dinheiro. Havia um bilhete. Rapidamente o abri e lá estava escrito:
  • Ser Humano otário! Além de perder seu coração para um ser puro, ainda perde seu dinheiro, dignidade, pureza e alto-estima para um demônio? É por isso que a sua raça não vai para frente!”
Fiquei revoltado com aquele bilhete. Mas infelizmente estava certo. A partir daquele momento eu só tinha uma coisa a fazer! Encher a cara!
  • PARA A HISTÓRIA! Pera aí meu irmão! Se você morreu e se fodeu todo, como está aqui contando essa história? - perguntou o amigo indignado enquanto ouvia a epopeia.
  • Sim! Eu já ia chegar lá! - respondi.
Vagando pelo inferno somente com a roupa do corpo, achei um bar e entrei. Era um lugar simples. Algumas cadeiras, uma mesa de bilhar, um barzinho com bastante gente em pé, bebendo. Havia um bando de homens barbudos, com casacos de couro, bandanas, tatuagens e correntes, jogando algo que envolvia cartas. Cheguei na mesa, estufei o peito e perguntei.
  • É MAGIC: THE GATHERING?!
Logo todos da mesa se levantaram olhando extremamente feio para mim. Acoado, comecei a abanar as mãos num pedido de desculpas enquanto uma lágrima escorria dos meus olhos. O maior deles, um cara com a barba até o umbigo - barbas servem para medir o respeito nesse ramo da vida - saiu de sua cadeira e veio em minha direção com as mãos fechadas. Estava pronto para tomar um belo soco na cara e continuar andando pelo inferno agora com o maxilar quebrado, sem dinheiro, sem dignidade, sem pureza, sem mulher, blah, blah, blah. Ao invés, o homem me pegou pelo pescoço e olhou para os companheiros enquanto gesticulava com as mãos. Imediatamente um dos caras pegou uma cadeira, matou o cara que estava sentado, jogou o corpo para o lado e botou junto a mesa redonda onde esses simpáticos homens se encontravam.
  • Sente-se e jogue um poker conosco! Meu nome é Lúcifer e, se você me ganhar, lhe mandarei à terra dos humanos. - disse o homem... ou diabo... seja lá o que ele for.
Sem muita opção e não gostando de poker, começamos a jogar. Enquanto o Diabo contava as histórias de islâmicos que iam parar lá achando que iriam encontrar 72 virgens, sombra e água fresca e, na verdade, eles achavam sofrimento, doenças sexualmente transmissíveis, sogras e outras coisas terríveis que eu prefiro não citar aqui. Chegamos a uma rodada onde só eu e o Senhor da Escuridão ficamos e o resto da mesa já havia saído. Um dos comparsas se levantou da mesa, passou ao meu lado, deu um tapa de leve nas minhas costas e disse com um tom irônico:
  • Boa sorte!
Eu tinha um jogo de cartas do 4 ao 8 no mesmo naipe, acho que é chamado de Straight Flush. Não sabia se era algo realmente bom mas havia visto em vários lugares pessoas vibrarem quando alguém descia essa mão.
  • Então meu rapaz, o que vai ser? Está pronto para apostar sua alma? - falou com um sorriso meia-boca enquanto cofiava sua longa e escura barba.
Apostei tudo que tinha. Minha alma, minha roupa, tudo! Não havia como perder agora. Ele mostrou seu jogo de cartas, eram as minhas cartas. Um Straight Flush perfeito dos números 4 ao 8. Não acreditando, olhei para minhas cartas e lá estavam um par de 2.
  • VAMOS JOVEM! Mostre-me suas cartas! - gritou agora com uma voz cavernosa, quase um gutural.
Baixei minha mão enquanto todos do bar começaram a rir. Até o barman estava rindo daquela situação patética. O homem se levantou da mesa puxando-a pelas beiradas e a arremessando. Cartas e fichas voavam para todos os lados enquanto eu fechava meus olhos e rezava pra que aquele momento fosse só um grande pesadelo. Em um momento de coragem, talvez o único da minha vida, levantei-me e disse.
  • Chega! Essa palhaçada acaba agora! PEGASUS RYUSEIKEN!
Fechei meus punhos e desferi uma série de socos no estomago do barbudo. Após dez segundos de tela brilhando, musicas animadas japonesas tocando e, finalmente, eu trespassando Lúcifer.
  • Ah, para meu! Você quer que acreditemos que matou o Diabo em pessoa? Espera minha cerveja chegar para continuar suas mentiras. - disse meu amigo, me interrompendo enquanto contava minha gloriosa história.
Estávamos costa-a-costa agora. Eu e Lúcifer. Eu estava exausto só nessa sequência de movimentos rápidos porém estava certo que havia derrotado o Grande Mal. Lúcifer, por outro lado, continuava a gargalhar enquanto tornava-se de frente para mim. Fiquei sem reação, tentar dar uma de herói acabou só agravando minha situação. Foi quando o inesperado aconteceu. Um dos capangas do barbudo entrou voando pela porta do bar e parou empalado na parede com uma espada gigantesca atravessando de sua boca até seu anus. Todos ficaram parados olhando para o coitado na parede enquanto Lúlú olhava por cima de seus ombros para a porta rosnando feito um cão raivoso. Ouvimos um forte barulho de motor. E uma voz grave e confortante veio do lado de fora do lugar.
  • Lúcifer! Largue essa alma! Não me force a ir até aí! Sabe que se eu te matar, estará condenado pelo resto eternidade a viver no MEU INFERNO junto com Hades! E Niflheim pode ser muito muito pior e gélido que qualquer Inferninho cristão ou grego!
Sem exitar, Lúcifer me arremessou pela porta onde dei de cara com um ser todo iluminado sentado em uma moto cujo no guidão havia uma cabeça de cavalo que soltava uma fumaça azul por seus olhos e nariz. Arrastando com a cara no chão eu tentava me virar para olhar melhor para aquele ser. Era um aparente idoso de cabelos e barbas longas e grisalhas com um par de pistolas em cada perna, um chapéu da década de 30 bem acabado. Foi tudo que consegui reparar até que ele saiu de sua moto. Poxa! O homem tinha mais de 2 metros de altura! Ele ergueu sua mão para cima e, como mágica, surgiu sua espada em mãos. Olhou para trás.
  • Meu filho, não temas! És filho de Midgard! Seu lugar é com teus amigos tomando hidromel enquanto batalha por uma vida melhor! Deixe-me acabar com esse vagabundo anti-cristão e você retornará pra seu lugar. - disse o idoso com sua voz grave e imponente.
  • ODIN! Seu bastardo! O que faz aqui?! Esse reino não é seu! Esse mundo não é seu! Volte para suas terras nórdicas e suas valkirias e deixe os cristãos comigo! - disse Lúcifer enquanto saia furioso de seu bar.
Enquanto eu me levantava os dois começaram a se espancar. Espadadas para cá, correntadas para lá. Sangue para tudo quanto é lado, mas era clara a força superior de Odin com seu arsenal de armas brancas e de fogo. Nos suspiros finais de Lúcifer, ele grita suas ultimas palavras antes de ter sua cabeça cortada e sua alma carregada pelas mãos de Helgardh, rainha de Niflheim, caso não saibam.
  • GUERRA! MORTE! FOME! DOENÇA! Eu, Lúcifer, os invoco das profundezas do Inferno! Para que me ajudem contra esse patife nórdico!
Odin pegou uma certa distância e passou a lamina de sua espada no pescoço de seu adversário e, enquanto o mesmo caia ao chão com seu sangue vazando em quantidades frenéticas, guardou sua espada e veio em minha direção. Ajoelhou-se e me ofereceu a mão para que eu conseguisse me levantar.
  • Vamos meu filho, temos que ser rápidos agora. Logo esses quatro-cavaleiros-do-apocalipse chegarão e eu não terei tempo para resolver isso agora. - disse Odin enquanto me ajudava a tirar a poeira e terra vermelha da roupa.
  • Mas Senhor, como vai parar a fúria dos cavaleiros? - indaguei.
Ele simplesmente apontou para frente enquanto subíamos em sua moto. Eu não entendi muito bem afinal só havia um martelo cheio de raios de cabeça para baixo no chão logo a frente.
  • Pera, deixa eu ver se entendi. Odin matou Lúcifer que chamou os Quatro Cavaleiros do Apocalipse para matar Odin e agora, enquanto Thor vai aparecer, vocês vão embora na Harley- Davidson do Deus Nórdico? - perguntou meu amigo enquanto bebia sua cerveja.
  • É isso aí! - eu respondi.
  • MAS QUE PORRA CARA! ISSO TUDO FOI MORFINA QUE TE DERAM NO HOSPITAL?! - novamente meu amigo começando a ficar bebado.
Continuando. Saímos voando do Inferno mais rápido que bala disparada. Super-sônicos nós fomos para cima eternamente e, finalmente Odin me deu uma cotuvelada na boca e assim eu cai de sua moto desacordado. Quando meus olhos finalmente começaram a abrir eu notei que agora estava no hospital com uma enfermeira muito gostosa cuidado de mim. Ela disse que eu fui atropelado por um ônibus em alta velocidade e que, por pouco, eu não morri. Fiquei em coma durante uma semana mas voltei, para surpresa de todos. A enfermeira disse que havia uma carta de um homem que passou essa tarde lá. Perguntei como era o homem e ela disse que o sujeito tinha um jeito de motoqueiro. Com essa resposta totalmente esclarecedora, pedia carta a mulher. Ainda engessado e todo dolorido, pedi-a para que abrisse para mim. Imediatamente ela o fez e leu o que estava escrito. Quando ela leu, sua voz mudou, ficou grave e assustadora. Sua voz ecoava na minha cabeça. Havia ouvido aquela voz em algum lugar. Na carta dizia:
  • Essa batalha ainda está só começando, jovem. Te encontro no Inferno. Beijos, Satãn.”
E assim, eu me recuperei e hoje estou aqui com vocês tomando essa cervejinha esperta nesse bar.
  • Como assim cara? Acabou? Você teve um momento “exorcista” com a enfermeira e acabou?! - perguntou meu amigo apavorado.
  • Ah, sei lá meu! O máximo que pode acontecer é eu morrer. - falei rindo.
  • E ae, qual conclusão que você tirou dessa história, cara? - meu amigo gordo barbudo perguntou.
  • De que, tanto no Céu quanto no Inferno, as mulheres só quererem saber de arrancar meu coração e meu dinheiro fora.
E assim terminou a noite naquela rodinha de amigos com todos rindo da situação. Mas não se engane. Essa história é verdadeira. Aconteceu com um amigo de um amigo meu. Se você não tomar cuidado, pode acabar como ele.

FIM.

3 comentários:

  1. A anja loira gostosa era o Val?
    A Diabinha morena gostosa disse que ia te arrancar a pureza. Tipo, anal na lata?

    hoauiehoauieioa muito da hora dante :D


    BEIJOS, Satã, é otimo! huahauhuahuhauhau

    ResponderExcluir
  2. bom uma coisa eh verdade... as mulheres de lá não são muito diferentes das daqui... xD

    ResponderExcluir